Na hora de escolher um novo lar, o que pesa cada vez mais na decisão dos brasileiros não é apenas o número de quartos ou a metragem do imóvel, mas as experiências que ele pode proporcionar. Ambientes como espaço pet, minimercado e até estúdios para criação de conteúdo digital estão deixando de ser luxo para se tornarem atrativos estratégicos.
Um levantamento recente do DataZAP, área de inteligência de dados do grupo OLX, reforça essa tendência de valorização das áreas comuns. A pesquisa aponta que os itens mais desejados pelos locatários atualmente são os espaços de mensageria (áreas dedicadas ao recebimento de encomendas) e os minimercados, ambos com 39% de interesse.
Espaço pet (34%), a churrasqueira (32%), a academia (31%) e a piscina (22%) também aparecem na lista e indicam uma mudança clara nas prioridades dos consumidores, que buscam cada vez mais espaço e socialização dentro dos próprios condomínios e fora dos seus apartamentos.
Cássia Ximenes, presidente da CMI/Secovi-MG (Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato da Habitação de Minas Gerais), enxerga essa movimentação como um reflexo direto das mudanças no comportamento social e nas expectativas dos consumidores. “O mercado imobiliário acompanha a dinâmica da vida das pessoas. É o próprio público que determina o que ele quer e vai apresentando novas demandas. O setor está sempre atento, absorvendo essas transformações e entregando o que o consumidor busca”, afirma.
A dirigente destaca ainda o crescimento da valorização dos espaços compartilhados, tanto como extensão da casa quanto como pontos de interação e expressão pessoal. A mudança de mentalidade impulsionou o uso das áreas comuns como solução prática, econômica e social.
“Espaços como o gourmet, por exemplo, permitem que o morador compartilhe o uso de um fogão dos sonhos com outras pessoas, sem precisar arcar sozinho com o custo. É uma forma inteligente de ter acesso a itens de alto padrão e ainda fomentar a convivência entre os vizinhos”, afirma Cássia.
Projetos sob medida
Na Emccamp Residencial, por exemplo, esses diferenciais já são realidade. Em empreendimentos apartamentos de dois ou três quartos, criam espaços que acolhem a rotina das famílias, como brinquedoteca, playground e salão de festas. Já em projetos pensados para solteiros ou casais jovens, priorizamos ambientes compactos e funcionais, como áreas de convivência, coworking e espaços gourmet, perfeitos para quem busca praticidade sem abrir mão do estilo.
Espaço projetado pela Cury ConstrutoraFoto de divulgação: VendPertoDecoração British Countryside no The Pineyards, empreendimento da GT Building
“O morador se sente acolhido ao encontrar tudo o que precisa no próprio condomínio: lavanderia, academia, mini mercado, piscina, entre outros itens. Com isso, ganha em tempo, comodidade e bem-estar, ao saber que pode contar com uma estrutura completa a poucos passos de casa”, destaca Bruna Said, arquiteta e coordenadora de produto da construtora.
Piscina, academia, salão de festas e quadra esportiva, espaço pet e brinquedoteca estão presentes em todos os projetos, inclusive os voltados para moradores de baixa renda. E as inovações vão além: alguns empreendimentos da construtora incluem desde praça da fogueira até espaço influencer, com decoração ‘instagramável’, ring light, mesa de podcast e cenários para gravação de vídeos e fotos, que é o caso do Porto Carioca, no Rio de Janeiro.
Aposta em bem-estar e funcionalidade
Investir em áreas comuns que reflitam os novos estilos de vida, valorizando a estética e a funcionalidade, é a aposta da construtora Somattos. Carolina Lara, gerente de marketing e experiência do cliente da empresa, explica que esses ambientes representam uma extensão do lar e agregam valor emocional e qualidade de vida. “As áreas comuns têm um papel estratégico na valorização dos empreendimentos. Elas impactam diretamente na decisão de compra porque traduzem o estilo de vida que o cliente deseja viver”, explica.
Segundo a gerente, as tendências que começam a ganhar mais força são os ambientes híbridos, que servem tanto para lazer quanto para trabalho, áreas que estimulam a conexão com a natureza e espaços gastronômicos mais elaborados. Em alguns empreendimentos, também foram incorporados wine bars e adegas climatizadas, reflexo do desejo por experiências mais personalizadas e exclusivas.
A curadoria dos espaços é feita com base em estudos detalhados do perfil do público e na vocação de cada bairro. “Projetamos empreendimentos para públicos distintos, desde jovens que priorizam mobilidade e trabalho remoto até famílias que valorizam espaços para crianças e convivência. Nosso objetivo é entregar soluções que dialoguem com o dia a dia real das pessoas”, afirma Carolina.
Foto de divulgação da Construtora Andrade Ribeiro
Outro ponto que a gestora destaca é a preocupação em integrar os empreendimentos ao entorno urbano, com fachadas ativas, paisagismo externo, acessibilidade e respeito à identidade dos bairros. Ela afirma que a empresa acredita que o imóvel deve estar em harmonia com a cidade.
Integração com a natureza
O conceito de áreas comuns, para o Grupo EPO, vai além da ideia original dentro dos muros de concreto. A empresa aposta em uma integração entre os empreendimentos e o meio ambiente com uma atuação pautada pelo urbanismo humano e sustentável. No Edifício Jardim, no bairro Cidade Jardim, em Belo Horizonte, essa filosofia ganha forma com a “Floresta de Bolso”.
Menos da metade dos 10 mil metros quadrados do terreno será ocupada pela torre residencial, permitindo que o restante da área seja transformado em um verdadeiro refúgio natural. Serão 6 mil metros quadrados dedicados a uma exuberante área verde, que inclui um espelho d’água natural e um bosque. A técnica, desenvolvida e registrada por Ricardo Cardim, consiste na criação de uma floresta densa em pequenos espaços urbanos, com espécies nativas do Cerrado, pomar e jardins sensoriais.
Ático do MUDA WF onde é realizada a captação da água das chuvas
Embora seja uma área comum para frequentação de moradores do Edifício Jardim, a Floresta de Bolso contribui indiretamente para a melhoria do microclima e da paisagem urbana do entorno, como a diminuição da temperatura, o aumento da umidade do ar e a retenção de águas pluviais no solo, além de contribuir para o conforto térmico e para a qualidade de vida dos moradores e vizinhos.
“Buscamos trazer soluções urbanas inteligentes, que geram impacto positivo não só para quem mora no empreendimento, mas para toda a vizinhança. É uma forma concreta de devolver verde à cidade, melhorar o microclima e valorizar o convívio com a natureza em pleno ambiente urbano”, afirma Guilherme Santos, vice-presidente do Grupo EPO.
Conectando o empreendimento com a comunidade
A proposta do Jardim vai além do paisagismo. O empreendimento não terá muros na fachada, criando uma relação mais aberta com a cidade. Inspirado nos jardins modernistas da região, o edifício foi recuado da calçada para dar lugar a uma ampla praça com jardim frontal. O paisagismo contemporâneo se integra à arquitetura, à paisagem e à vida urbana, oferecendo uma experiência rica para moradores e para o entorno.
Pautados por um olhar coletivo, os projetos da EPO buscam transformar o espaço privado em um elo com a comunidade local, como a reurbanização do Vale do Sereno, em Nova Lima. Na região, o grupo liderou a criação da Rua Ipê Rosa, uma via de “trânsito acalmado” que prioriza o pedestre, resgata o espaço público para a convivência e conecta os empreendimentos ao tecido urbano.
Segundo Guilherme Santos, a rua foi feita para priorizar as pessoas. “Queremos que as crianças e seus pais possam brincar, andar de bicicleta, jogar bola ou apenas desfrutar do espaço público, conectando a área interna dos prédios ao que está fora deles”, finaliza.