Como a criminalidade digital impacta na sensação de insegurança no país

Os últimos dados apresentados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam para mais uma queda no número de homicídios em todo o país. Em 2024, somamos 44.124 mortes intencionais, uma diminuição de 5,4% em relação ao ano anterior. E quando olhamos para a evolução dessa estatística criminal desde 2012, houve uma diminuição acumulada de 25%. 

Mesmo com essa redução, a sensação de insegurança motivada pela criminalidade ainda segue alta no Brasil e alguns fatores nos ajudam a entender o porquê não passamos a nos sentir mais tranquilos nas nossas cidades nestes últimos anos. 

O primeiro deles é que, mesmo em queda, os números ainda são alarmantes. A nossa taxa de homicídios está em 20,8 por grupo de 100 mil habitantes, o que faz o país figurar entre as nações do mundo com os piores índices nesta modalidade de crime. Nos últimos dados comparativos, o Brasil estava em terceiro lugar nas maiores porcentagens globais das categorias de delitos. Ainda temos cidades, como Maranguape, no Ceará, com 79,9 mortes intencionais por 100 mil habitantes, um número maior que o país mais violento do mundo, a África do Sul que, no último estudo, possui 72 por 100 mil. 

Estes dados ainda parecem mais agressivos quando os analisamos mais de perto. São cinco mortes por hora no Brasil. 

Outro fator que ajuda a corroborar com a nossa sensação de insegurança é a migração do crime para o digital. As fraudes cresceram 408% desde 2018, chegando a uma taxa de 1.019 casos a cada 100 mil habitantes, sendo que, apenas em 2024, foram contabilizados 2.166.254 estelionatos, resultando em uma média assustadora de quatro golpes por minuto. É uma verdadeira epidemia, como o próprio Anuário Brasileiro de Segurança Pública classifica. 

Pelo baixo risco, as grandes facções criminosas estão apostando neste tipo de delito para manter seus caixas cheios. Os roubos e furtos de celulares, por exemplo, continuam nas alturas nas grandes capitais. São 431 casos a cada 100 mil pessoas em todo o Brasil, tendo cidades como São Luiz, Belém, São Paulo e Salvador no topo da lista. E outra consequência desse tipo de delito é o uso desses aparelhos de forma criminosa para o cometimento de fraudes. 

E por último, mas não menos importante, todos esses pontos levam a população a não acreditar na possibilidade de os nossos governantes darem conta de resolver a situação. A falta de políticas públicas de segurança interligadas em todo o território soma-se à situação precária que enfrentam nossas polícias e à morosidade na resolução dos crimes. 

Por essa mesma equação é que o mercado de segurança privada cresce tanto no Brasil. Se não temos o Estado como um aliado eficiente, apelamos para os nossos próprios esforços para termos a sensação de maior proteção. 

É preciso olhar de forma mais otimista a situação atual, pela ótica da queda dos dados de criminalidade como um todo para que, no final do dia, possamos nos sentir mais seguros em nossas próprias casas.